O papel da psicoterapia nas etapas de enfrentamento dos mais variados tipos de câncer

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Com cuidados que acolhem, a psicoterapia mostra que a jornada da saúde não tem cor e nem gênero, ajudando a trabalhar medos e crenças limitantes

Por: Ana Paula Manzolli

As campanhas de conscientização de doenças, como o câncer, surgiram como esforços organizados para educar o público, desmistificar a doença e promover a detecção precoce e o tratamento. Esses movimentos ganharam força nas últimas décadas, especialmente com a união de organizações médicas, entidades governamentais e ativistas.

Surgimento nos Estados Unidos

O conceito de campanhas de conscientização teve suas raízes no início do século XX. No caso do câncer, os esforços se intensificaram com a fundação da American Cancer Society (ACS) em 1913, inicialmente chamada de American Society for the Control of Cancer. A ACS liderou campanhas para educar o público sobre sinais e sintomas do câncer, além de incentivar a busca por tratamento.

Na década de 1940, a ACS começou a usar materiais impressos e palestras públicas para alcançar audiências maiores, introduzindo uma abordagem mais estruturada à conscientização.

O laço rosa e o movimento contra o câncer de mama

Nos anos 1980, campanhas específicas ganharam ícones, como o laço rosa, que surgiu como símbolo do câncer de mama. A ideia foi amplificada em 1991 pela Susan G. Komen Foundation, que distribuiu os primeiros laços rosa em uma corrida para arrecadar fundos.

O “Outubro Rosa”, por exemplo, nasceu a partir dessas iniciativas, com o objetivo de promover a detecção precoce do câncer de mama. Hoje, é uma campanha global.

História do câncer

O câncer é uma das doenças mais antigas da humanidade, com registros em múmias egípcias de mais de 3.000 anos. O Papiro de Edwin Smith, datado de 1600 a.C., é o primeiro documento médico conhecido que descreve tumores.

O câncer de mama é o mais comum entre as mulheres no Brasil, com 73.000 novos casos anuais (INCA, 2023), e 2,3 milhões de casos globalmente (OMS, 2021). O câncer de próstata é o segundo mais frequente em homens no Brasil, com 71.000 casos anuais (INCA), e 1,4 milhão de novos Casos no mundo (OMS).

Causas do câncer

O câncer é causado por mutações genéticas que levam ao crescimento descontrolado das células. As causas incluem:

  • Genéticas: 5-10% dos casos são hereditários.
  • Ambientais: Tabagismo, radiação UV, infecções virais como HPV e hepatite C.
  • Estilo de vida: Dieta pobre, sedentarismo e consumo de álcool.

A relação entre depressão e o desenvolvimento do câncer tem sido amplamente desenvolvida. Pesquisas recentes indicam que, embora a depressão possa afetar negativamente a saúde geral, não há evidências conclusivas de que ela aumenta diretamente o risco de desenvolver câncer.

Muito embora a depressão possa impactar a saúde de diversas maneiras, as evidências científicas atuais não sustentam a ideia de que ela causa diretamente o câncer. É fundamental considerar outros fatores de risco conhecidos, como hábitos de vida e predisposições genéticas, na prevenção e no desenvolvimento de estratégias de saúde.

O que não dizer para quem recebe um diagnóstico de câncer

Receber um diagnóstico de câncer é emocionalmente desafiador. Evitar frases que possam invalidar ou pressionar uma pessoa, podem fazer muita diferença no enfrentamento à doença. Aqui, vão alguns exemplos do que não dizer às pessoas diagnosticas com a doença:

  • “Tudo acontece por uma razão.
  • “Você é forte, vai superar isso.
  • “Minha tia/primo teve isso e ficou bem.
  • “Você precisa ser positivo.
  • “Poderia ser pior, ao menos não é outra doença.
  • “Você já pensou que não pode ter causado isso?
  • “Deus nunca dá uma carga maior do que você pode suportar.
  • “Você vai ficar bem, não se preocupe.
  • “Seja grato pelo que ainda tem.”
  • “Se precisar de algo, me avise.”

A psicoterapia desempenha um papel crucial em todas as etapas do enfrentamento do câncer. Na prevenção, ajuda a trabalhar medos e crenças limitantes e incentiva hábitos saudáveis. Durante o tratamento, oferece suporte emocional para lidar com ansiedade, depressão e alterações na autoimagem. No pós-tratamento, auxilia na reconstrução da autoestima e reintegração social, especialmente após procedimentos como a mastectomia.

Também vale destacar que é fundamental o apoio e orientação aos familiares e pessoas próximas. Existe uma abordagem específica chamada Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT).

A ACT combina técnicas de facilidade com estratégias de comprometimento com valores pessoais, ajudando pacientes e familiares a viverem de forma significativa, mesmo diante das adversidades.

Para os pacientes:

  • Aceitação da realidade: ajuda o paciente a aceitar a presença do câncer como parte da vida, sem se deixar consumir por pensamentos e emoções negativas.
  • Mindfulness: ensina a focar no presente, reduzindo a ruminação sobre o passado ou o futuro.
  • Viver com propósito: auxilia o paciente a identificar e se engajar em valores que consideram sentido à vida, mesmo durante o tratamento.
  • Flexibilidade psicológica: trabalha a habilidade de enfrentar situações difíceis sem evitar ou resistir, promovendo a resiliência emocional.

Para os familiares:

  • Evitar sobrecarga emocional: ensina a aceitar emoções difíceis sem julgamento, permitindo que cuidadores mantenham o equilíbrio emocional.
  • Foco nos valores: ajuda os familiares a alinharem suas ações com o que é mais importante para eles, como amor, cuidado e apoio.
  • Redução da culpa: incentivo à acessibilidade de que nem todos os aspectos da doença estão sob seu controle.

A vida é o nosso bem mais precioso, e cuidar dela é um gesto de amor-próprio e de respeito por aqueles que nos cercam. A prevenção, seja por meio de exames regulares, hábitos saudáveis ou de atenção à saúde emocional, é o maior presente que podemos ter.

Além disso, cuidar da saúde não é apenas prevenir doenças, mas também valorizar cada momento da vida. Apreciar os pequenos instantes, fortalecer as relações, e buscar nosso equilíbrio físico e emocional nos permite viver de forma plena e significativa.

Referências:

  1. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2023: Incidência de câncer no Brasil.
  2. Organização Mundial da Saúde (OMS). Principais fatos sobre o câncer.
  3. Fundação Movember. Nossa história. Disponível em: movember.com.
  4. Beck, J. S. (2020). Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática.
  5. Hanahan, D., & Weinberg, R. A. (2000). As características do câncer.
  6. Sudhakar, A. (2009). História do Câncer, Visões Antigas e Modernas. World Journal of Clinical Oncology.

Sobre Ana Paula Manzolli: Ana Paula é psicóloga e especialista em relacionamentos e família, com mais de 18 anos de experiência em psicoterapia.

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