P. Penedo
Ressaca do mês
Numa manhã ensolarada de Copacabana, tremendo calor dentro de casa, num apartamento em que dois amigos dividem o aluguel, um deles acorda tarde numa ressaca de escurecer pensamento. Liga a televisão, tendo o cuidado de manter o volume no nível mínimo, caso contrário a cabeça explodiria. A cena que surge na tela é intrigante. Um andar de um exuberante arranha-céu está em chamas. A curiosidade é maior do que a ressaca e o obriga a aumentar o volume. O outro amigo acorda. A cara péssima indica que a bebida da noite anterior também não lhe havia caído bem. Tinha escutado de seu quarto a notícia e a curiosidade também o motivou a sair do abrigo escuro e enfrentar a luz e o calor da sala. Um avião havia colidido com um edifício em Nova York. Como jornalista, iniciou imediatamente uma série de questões. Como pôde um piloto ser tão irresponsável. Que defeito uma aeronave poderia apresentar de modo a criar condições para tamanho desastre. Teria sido de propósito? Nesse momento uma outra aeronave, imensa, risca a tela e atinge a torre ao lado. 11 de setembro de 2001.
Brasil, sil
Histórias brasileiras. Num município do remoto sertão havia um juiz de direito que era conhecido pela emotividade e pelo hábito de tomar diariamente no mesmo bar e quase sempre à mesma hora uma dose de seu conhaque predileto. Bem idoso, de andar lento e pausado, era querido pela cidade que compreendia e perdoava tanto as lágrimas fáceis quanto o hábito não tão honroso para um juiz. Num julgamento em que o réu havia esfaqueado um homem que havia seduzido sua esposa, dizem que as duas características pesaram na pena resultante. Eis o caso. O réu tinha um filho pequeno. A família dormia. Na madrugada, a criança acordou chorosa. O réu acordou e notou que a mulher não estava ao seu lado na cama. Levantou-se, consolou a criança e notou a mulher na varanda. Ao se aproximar ainda pôde observar o vulto que escapava correndo. Obrigou a mulher a confessar que o traía e quem era o traidor. Assim que amanheceu dirigiu-se à casa onde vivia o vulto e, assim que lhe abriu a porta, o apunhalou por 37 vezes. Durante o julgamento, o advogado, sabedor do forte traço sentimental do juiz, no discurso de defesa apelou: “Naquele momento em que a criança chorou, era como se dissesse: Acorda meu pai, que o nosso lar está sendo traído!”. Há quem diga que o juiz, naquele momento, ao tirar os óculos e buscar um lenço para enxugar a testa suada pelo calor da sala lotada, pois que o julgamento tinha se transformado em grande acontecimento na cidade, na verdade usou o pano para enxugar as lágrimas que ameaçavam cair diante do argumento poderoso da defesa. O réu foi absolvido.
Conjecturas
Um mais um são dois até que sobrevenha o divórcio e volte a ser apenas um.
O sol nasceu para todos mas o ar-condicionado apenas para alguns.
Quem canta seus males espanta e ainda mais se for extremamente desafinado.
Alho por alho, dente por dente que o almoço hoje é de paz.
Salve-se quem puder
Há uma condição biológica inerente a algumas espécies como crocodilos, tartarugas, lagostas e outras que as fazem praticamente não dar sinais de envelhecimento. Pode-se quase dizer que essas espécies são imortais, pois que apenas morrem por acidentes, doenças ou predadores. No dia em que os cientistas matarem a charada dessa imortalidade, certamente o tratamento será caríssimo e teremos que conviver eternamente com os Musk e os Trump da vida. Por sorte algumas Taylor Swift também poderão embarcar na onda e salvar a eternidade com melhores companhias.