Guttemberg Guarabyra
Minha vida, por obra do destino, colocou meu planeta orbitando a estrela da cidade de Jaboticabal, SP, para sempre. Vocês não fazem ideia do quanto fomos parceiros do mesmo universo. A estudantada de lá organizava anualmente um incrível festival de música. Num deles, fui convidado para participar como jurado e fiquei agoniado quando chequei a data e descobri que já estava ocupada por um show intransferível, com o contrato já devidamente assinado. Triste, comuniquei à organização o impedimento. Perguntaram se não poderia indicar alguém, que, além de jurado, trouxesse algum holofote possível para o evento. Fiquei de pensar.
Naquela época convivia no dia a dia e havia me tornado amigo de belas gargalhadas e horas de muito papo, em que mais ouvia do que falava — pois mais me valia absorver a inteligência e o humor — de Paulo César Pereio. Pensei. Será que ele toparia ir em meu lugar?
Liguei. Topou!
A estudantada achou genial, ele adorou, pois não tinha compromisso naquele final de semana e se entusiasmou quando descrevi a cidade e o pessoal bacana que iria encontrar em Jaboti (abreviatura carinhosa para nominar a cidade).
Viajei tranquilo e feliz. Naquele tempo pré celular só tive notícia de como havia sido a viagem de Pereio quando voltei a São Paulo e soube que, depois da primeira noite de julgamento, foi se divertir num bar e enfrentou uma desavença que até hoje não consegui compreender (nem sei se ele também) de que forma começou. Nem da forma como terminou. Pereio, no meio do desentendimento foi agredido e revidou com um chutaço que, em vez de alcançar o agressor, atingiu uma cadeira. Fraturou a canela.
Voltou engessado. Narrou-me o que conseguiu entender do enredo da cena particular exibida apenas no pequeno bar, para diminuta plateia e da qual fora protagonista, às gargalhadas.
Tirou de minhas costas, numa só fala, todo o peso da culpa que vinha carregando por metê-lo involuntariamente numa aventura estabanada.
Lá em cima, no Café Teatro São Pedro, mesas e cadeiras de nuvens poderão ser chutadas à vontade. Não haverá quebra de canelas, mas as risadas dos amigos, o ganho absorvido por sua inteligência e o prazer de contar com uma amizade absolutamente leal, subsistirão para sempre. Adeus, grande Pereio. Aplausos eternos. Bravíssimo!