Produção, vendas e uso da capacidade do setor químico caem ao pior nível histórico em 2023, com importações ocupando 47% do mercado

In ABCD, Canto do Joca, Economia On
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Diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira

Competitividade da química é agravada pela guerra Rússia-Ucrânia; Nova Indústria Brasil e Gás para Crescer ajudam, mas será necessária medida emergencial

Em 2023, os índices Abiquim/Fipe dos produtos químicos de uso industrial apresentaram forte recuo na comparação com o ano anterior.

Em especial o de produção e o de exportação, com recuos de 10,1% e de 10,9%, respectivamente.

Ainda que as importações tenham crescido 7,8%, a demanda brasileira, medida pelo consumo aparente nacional (CAN) – produção mais importação menos exportação -, caiu 1,5% em 2023, em relação ao ano anterior.

Segundo Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, esta segunda queda consecutiva do CAN preocupa demasiadamente;

Em 2022, por exemplo, a demanda já havia recuado 5,8% na comparação anual.

“O setor não consegue competir com a agressividade do importado, tampouco buscar alternativas no mercado externo”, disse, em resumo.

As vendas internas encolheram fortemente, -9,4%, no ano passado.

Quanto à utilização da capacidade instalada, o segmento operou no patamar de 64%, o menor de toda a série histórica da entidade.

Perda ano a ano

Importante salientar que 2007, 17 anos atrás, foi o último ano considerado dentro do padrão da normalidade para a produção de uma unidade química.

“De lá para cá, vem se acentuando ano a ano a perda de competitividade no Brasil, com importações crescentes e que ocupam espaço cada vez maior em relação ao atendimento da demanda local. Todos os grupos de produtos pesquisados na amostra do RAC, sem exceção, apresentaram aumento no nível de ociosidade. Por outro lado, apesar da criticidade do momento, todos os grupos de produtos analisados possuem espaço para elevar a produção no curto prazo”, destacou Coviello.

Em relação aos preços, o segmento de produtos químicos de uso industrial acumulou deflação de 12,7% entre janeiro e dezembro de 2023, reflexo, basicamente, do comportamento do mercado internacional.

Aqui, vale pontuar a característica da indústria química brasileira de ser tomadora de preços no mercado internacional.

Principais índices

Ainda sobre o volume de importações da amostra de produtos do RAC, os destaques ocorreram nos aumentos verificados nos grupos de intermediários para resinas termofixas (+85,8%), plastificantes (+57,3%), resinas termofixas (44,2%) e resinas termoplásticas (+17,1%).

Como a demanda local encolheu no ano passado, a parcela maior de importações sobre essa demanda menor cresceu, alcançando 47% em 2023.

Trata-se, portanto, do resultado mais elevado em 30 anos.

Para Coviello, a situação fica ainda mais crítica quando se avalia o crescimento do volume importado dos produtos da amostra deste relatório versus os seus respectivos preços médios dessas importações, cujo valor médio unitário teve recuo de quase 34%.

Levando em conta as iniciativas do Brasil, a nova política industrial divulgada recentemente e as perspectivas em torno do programa Gás para Empregar ajudarão o País a melhorar questões importantes estruturais.

Mas, é preciso associar uma ação emergencial.

Como a implementação da lista transitória de elevação das alíquotas de importação, defendida pela Abiquim.

Isso para que se tenha tempo de produzir efeito nas agendas estruturais.

“A manutenção do quadro internacional atual, associado à elevada ociosidade e às crescentes importações, pode comprometer o parque instalado, trazendo consequências desastrosas ao País, que podem resultar em desativações de unidades, perdas de postos de trabalho e menor arrecadação de impostos pelo setor químico, que é atualmente o primeiro no pagamento de tributos federais”, explica a diretora da Abiquim.

Preocupante

A queda da produção de químicos em 2023 resultou em uma perda de quase R$ 8 bilhões em arrecadação de impostos federais para o País.

Para Paulo Gala, economista da Fundação Getúlio Vargas, esse cenário – com forte queda de vendas, produção e exportações de produtos químicos – é muito preocupante.

“Importante ressaltar que, em um ano em que a economia brasileira apresentou um crescimento de 3%, a indústria química experimentou uma contração de 10%. Isso mostra claramente um grave processo de desindustrialização da economia nacional”, explica.

Ainda segundo o economista, os setores mais sofisticados, com maior conteúdo tecnológico e salários mais elevados perdem espaço no PIB, contrastando com o crescimento impulsionado principalmente pelo setor de serviços de menor sofisticação.

“Esse resultado é consequência da concorrência desafiadora de produtos asiáticos, com destaque para os chineses. A presença desses produtos no mercado brasileiro, muitas vezes resultante de práticas como dumping ambiental e subsídios públicos, dificulta consideravelmente a competição para a produção doméstica brasileira”, enfatiza Gala.

Ele complementa, em conclusão, que, diante desse panorama preocupante, torna-se evidente a necessidade de ação do governo.

Assim, esperam-se medidas estratégicas para proteger e fortalecer a indústria química, preservando sua vitalidade e potencial contribuição para a economia nacional.

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