Financiada pela Prefeitura de Diadema, casa conta com equipe técnica para auxiliar adolescentes em seus primeiros passos no mundo real
Até o início deste ano, adolescentes vivendo em serviços de acolhimento institucional (os chamados “abrigos”) que completassem 18 anos precisavam sair do serviço e passar a viver por conta própria.
Eram adultos, afinal, pelo menos aos olhos da lei – e do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Muitos haviam passado grande parte da infância no acolhimento, senão a vida toda.
Não haviam passado por adoção e, de repente, se viam soltos no mundo, sem todo o apoio que recebiam até então.
Mas, em Diadema, esse quadro começou a mudar em março, quando foi implantada a primeira República Jovem da cidade.
Isso, por meio de recursos da Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC).
Pensada exatamente para abrigar temporariamente os jovens de 18 anos que precisavam deixar os abrigos, a casa conta com toda a estrutura de uma residência.
Além de uma equipe técnica que auxilia os adolescentes a darem seus primeiros passos no mundo real.]
Quem venceu o edital da Prefeitura para fazer a gestão do serviço foi a Associação Brasileira de Ação Social Cristã (ABASC).
Projeto piloto
O psicólogo Guilherme Felipe Vilela é o coordenador da equipe técnica.
Ele conta ainda com outro psicólogo e uma assistente social, e revelou que tudo precisou ser feito do zero.
“Por ser um projeto piloto, nós é que tivemos que pensar como a república funcionaria, o papel da equipe, o que esperar dos moradores, qual a expectativa do município e como atender esta expectativa. Tudo para estarmos 100% prontos quando chegasse o primeiro jovem.” A equipe permanece na casa, à disposição dos moradores, de segunda a sexta, das 8h às 17h.
“Todo adolescente que vem pra cá constrói conosco um Plano Individualizado, que é uma espécie de projeto de vida,” explica Guilherme. “É nesse projeto que ele coloca se quer continuar a estudar, se quer buscar um emprego, que tipo de emprego, se precisa de um curso, uma faculdade. Como parte importante do projeto é estimular a autonomia, ele é quem decide o rumo que vai tomar. O morador pode ficar na casa por até 3 anos e nós estamos aqui para orientar e ajudar na concretização desses projetos.”
Uma casa completa
A República Jovem funciona em uma casa na região Sul da cidade, totalmente mobiliada para abrigar até 6 pessoas. Possui vários quartos, camas, armários, sofá, televisão, internet. A cozinha tem mesas, cadeiras, fogão, geladeira e micro-ondas. Mas são os próprios jovens que terão que se organizar para comprar e cozinhar a própria comida, para cuidar da limpeza e arrumação do espaço, lavar suas roupas etc.
“Nos abrigos, eles têm tudo feita para eles. Aqui, não só eles precisam cuidar da própria existência, como precisam ainda lidar com o fato da casa ser o seu lar e ao mesmo tempo ser um espaço coletivo. Ou seja, eles precisam ter responsabilidades e respeitar o espaço do outro, conviver em harmonia. E, mais uma vez, a equipe acompanha, media e avalia essa convivência,” explica o psicólogo Matheus Vitor, também membro da equipe técnica.
Atualmente a casa vive uma situação (literalmente) singular: há apenas um morador, que fez 18 anos neste ano.
“Rapaziada, pra quem não me conhece, me chamo Daniel Henrique e sou primeiro morador da República Jovem de Diadema. Super indico essa forma de moradia pós-abrigo, pelo fato de nos ajudar a ter onde morar, se desenvolver, conseguir um trabalho e, para os que já estão inseridos no mercado de trabalho, nos ajuda a economizar e tornar nosso sonho futuro mais próximo de acontecer!”
Surpresa
Sobre a casa em si, pra ele foi, acima de tudo, uma surpresa.
“Esse é um espaço muito tranquilo e aconchegante, muito adequado em todas as questões necessárias para o meu desenvolvimento pessoal e profissional, e ainda assim, um lugar que realmente podemos chamar de casa. Foi algo novo pra mim e está sendo muito importante, pois ajudou a me estabilizar financeiramente, pessoalmente e de certa forma, diariamente tem me ajudado a lidar com os problemas da vida adulta”, relata.
Mas, a transição de abrigo para a república não foi tão simples, segundo o ilustre morador.
De uma hora para outra ele tinha a chave da porta, podia entrar e sair a hora que quisesse, passar o tempo da maneira que escolher.
“Mas, consegui me adaptar com o apoio da equipe e sinto que me fortaleço a cada dia,” afirmou.
Daniel conta os dias para a chegada dos próximos moradores, que estão para chegar à maioridade no início de 2024.
“Vai ser ainda melhor para nosso desenvolvimento, até porque parte deles são meninos que eu já conheço, que viveram experiências parecidas com a minha, então acho que vamos nos entender bem”, diz.
Pelo jeito, o que começou apenas como uma casa, tem tudo para se tornar, em conclusão, mais um lar.
Fotos: André Baldini e Daniel Henrique (selfie)