Joaquim Alessi
Entre janeiro e setembro de 2023, volumes caem ao menor patamar dos últimos 30 anos, com impacto de R$ 6 bilhões a menos na arrecadação de impostos federais
Em setembro de 2023, os principais índices de desempenho do segmento de produtos químicos de uso industrial (Abiquim-FIPE) registraram, em primeiro lugar, resultados positivos, na comparação com o mês anterior: o índice de produção subiu 11,65%; a demanda interna, medida pelo consumo aparente nacional (CAN), aumentou 18,1%; o volume de importações, da amostra de produtos do RAC, cresceu 20,4%; e as vendas internas cresceram 0,65%.
Mas, em relação ao mesmo mês do ano passado, os resultados da produção e das vendas internas foram inferiores em setembro deste ano, confirmando a desaceleração observada nos últimos meses: produção (-3,12%) e vendas internas (-4,42%).
No que diz respeito à demanda interna (+11,6%) e ao volume importado (+20,4%), ambos cresceram, da mesma forma, em relação ao mesmo mês do ano anterior.
O indicador de utilização da capacidade instalada ficou, além disso, em 65% no mês de setembro de 2023, um ponto abaixo do registrado em igual mês do ano passado.
Os preços nominais do segmento de produtos químicos de uso industrial, medidos pelo IGP (Abiquim-FIPE), subiram, por exemplo, 2,99% em setembro de 2023, na comparação com o mês anterior, após cinco meses consecutivos de deflações, entretanto, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, os preços nominais exibem forte recuo (-29,09%).
Sem reverter resultados negativos
O desempenho positivo de setembro, no entanto, não conseguiu reverter os resultados negativos de julho e agosto; com isso, na média do 3º trimestre de 2023, na comparação com igual trimestre do ano passado, os resultados foram os seguintes: índice de produção -12,19%, índice de vendas internas -8,0% e CAN -3,2%.
Por outro lado, as importações dos produtos amostrados no RAC tiveram alta de 2,2% entre os meses de julho e setembro, sobre igual período de 2022.
Confira, na tabela abaixo, os principais indicadores do Relatório de Acompanhamento Conjuntural (RAC) da Abiquim:
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Segundo Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, cabe um destaque à trajetória da curva de participação das importações sobre a demanda, que havia recuado de 48% no 3º trimestre de 2022 para 42% no 1º trimestre de 2023, mas voltou ao patamar de 45% no 2º trimestre deste ano e expressivos 50% no 3º trimestre de 2023, recorde para essa comparação.
Natal e verão
Ela afirma que a desaceleração dos volumes de produção e de vendas internas trazem preocupação ao setor, em especial, porque tradicionalmente, para os produtos químicos de uso industrial, que estão na base de diversas outras cadeias industriais, os meses de julho a outubro são os melhores do ano, em razão das encomendas de Natal e do período de verão.
“Vale acrescentar que o setor se ressentiu com os efeitos do apagão de energia elétrica, ocorrido no dia 15 de agosto de 2023, que atingiu quase todos os estados do país, com impacto nos diferentes grupos de produtos químicos, e que está preocupado com os apagões mais recentes, ainda não refletidos nos resultados, e que estão ocorrendo em razão do forte aumento da demanda de energia no sistema, por conta das temperaturas recordes”, completa, portanto, Fátima Coviello.
Preocupação
Com relação ao acumulado de janeiro a setembro de 2023, os resultados também são preocupantes, conforme aponta a tabela acima.
Como reflexo, segundo dados divulgados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, a arrecadação das receitas federais, excetuando-se as previdenciárias, da Fabricação de Produtos Químicos foi de R$ 20,74 bilhões entre janeiro e setembro de 2023, valor 22,43% inferior ao montante acumulado no mesmo período de 2022, quando a arrecadação federal do setor havia sido de R$ 26,74 bilhões – ou seja, um recuo de R$ 6 bilhões.
Segundo a diretora da Abiquim, é importante pontuar que a economia mundial passa por um momento delicado, conturbado e de forte instabilidade, sobretudo em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, cenário agravado recentemente pelo ataque terrorista em Israel.
Preços e demanda
“Os preços dos energéticos (óleo, gás e eletricidade), que subiram muito em meados do ano passado, não retornaram aos níveis pré-crise russa, mas já ensejam novas altas em razão dos acontecimentos mais recentes.”
Por outro lado, Fátima ressalta que a demanda agregada mundial está estagnada e os países estão, cada um à sua maneira, buscando alternativas ao suprimento de gás e óleo que antes eram oriundos da Rússia.
“Alguns tem aproveitado a transição energética para criar oportunidades de políticas agressivas de estímulo às suas indústrias, outros adotam restrições e barreiras à entrada de importações, visando proteger o seu mercado doméstico e outros, ainda, como o Brasil, sofrem com importações desleais de países da Ásia (que não aplicaram embargos às exportações da Rússia, fechando negócios vantajosos em termos de compra de óleo e de gás)”, completa.
Defesa comercial
O Brasil, continua a diretora, a exemplo do que os outros países estão fazendo e enquanto não consegue resolver alguns problemas estruturais, especialmente no tocante ao gás, precisa buscar mecanismos de defesa comercial para não deixar o parque industrial atual se desestruturar e até mesmo fechar.
“A Abiquim vem dialogando com o governo federal e levando sugestões de medidas sobre diversas agendas urgentes, como a da regulamentação do REIQ, a implementação de uma lista transitória de elevação das alíquotas do imposto de importação de alguns produtos químicos mais afetados por importações asiáticas e a construção de uma política para o uso do gás natural como matéria-prima”, destaca, da mesma forma.
Investimentos
Apesar do cenário atual crítico, a Abiquim tem ressaltado que a solução dessas questões pode reverter o cenário e atrair investimentos no sentido de tornar o Brasil menos vulnerável em cadeias estratégicas, diminuir a elevada dependência por importações e criar valor agregado às riquezas naturais e às vantagens comparativas de que o Brasil dispõe.
“Ao final, esses investimentos criarão empregos, ajudarão a adicionar valor ao PIB e melhorarão a arrecadação do governo, além de impulsionar o crescimento da própria indústria química e de todas as demais que dependem da química em suas bases de produção”, diz, em conclusão, a diretora Fátima Ferreira.