“Minha Perna, Minha Classe” retrata vida e luta de Manoel da Conceição

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Manoel da Conceição, ao lado de Lula, no colégio Sion, na fundação do Partido dos Trabalhadores: filme reúne momentos históricos da democracia brasileira. Crédito: Reprodução.

Documentário, dos premiados Arturo Saboia e Cassia Melo, será lançado na Cinemateca Brasileira, em São Paulo  

Lavrador, camponês, ferreiro, educador, sindicalista, ambientalista, pensador da luta por igualdade e reforma agrária, líder político, preso, mutilado, torturado e exilado pela ditadura.

Esse universo multifacetado do maranhense Manoel da Conceição (1935-2021) é, em primeiro lugar, tema do documentário Minha Perna, Minha Classe.

O filme será lançado, portanto, em 18.03, na Cinemateca Brasileira, na Vila Mariana, em São Paulo (SP).

No final de março, será colocado à disposição, acima de tudo, gratuitamente, em plataformas digitais.

Arturo Saboia (direção e roteiro) e Cassia Melo (produtora executiva) têm, no currículo, dentre outros prêmios, 6 Kikitos, no Festival de Gramado, pelo curta Acalanto (2013), o primeiro e já bem-sucedido trabalho da dupla.

Para retratar a vida e luta desse líder incansável, a equipe se debruçou sobre pesquisas, entrevistas, depoimentos, documentos de época e visitas às locações marcantes da trajetória de Mané da Conceição, como era conhecido.

O projeto conta com a Lei de Incentivo à Cultura, patrocínios do governo do Estado do Maranhão e Grupo Mateus e realização da Clímax Filmes e Oito Projetos Criativos.

Subversivo indomável

Assim se definiu o próprio Manoel da Conceição – subversivo indomável -, em entrevista histórica ao jornal O Pasquim.

Primogênito de um casal de lavradores, Manoel nasceu, em 1935, em Pedra Grande (MA).

Manoel e sua família foram expulsos diversas vezes das terras que cultivavam.

Na década de 1950, com o apoio do Movimento de Educação de Base, o MEB do educador Paulo Freire, Manoel conseguiu se alfabetizar, se politizar e ter consciência da exploração e da injustiça do latifúndio.

Em 1963, fundou e foi eleito presidente do primeiro sindicato de trabalhadores rurais do Maranhão, o Pindaré-Mirim.

Com o golpe de 1964, o sindicato foi dissolvido e Manoel passou um mês preso, junto com outras lideranças.

Em 1967, vincula-se à Ação Popular (AP) e, apesar da repressão, mantém o sindicato atuante.

Amputação

Em 1968, a Polícia Militar invade o sindicato e Manoel é baleado no pé.

Preso sem qualquer tratamento por uma semana, Manoel perde a perna direita gangrenada.

Na época, o governo tentou silenciar Manoel, que respondeu: “Minha perna é minha classe”. O resto é história.

“Tive a ideia de fazer este filme quando conheci Manoel da Conceição, há 20 anos, ao fazer uma pesquisa de locação. Foi um privilégio. Acabei viajando com ele por comunidades, assentamentos e aldeias no interior do Maranhão. Há 2 anos, em plena pandemia, resolvi transformar o sonho em realidade e chamei para o projeto um roteirista com esse olhar pungente, o cineasta maranhense Arturo Saboia, colega de longa data. E a ideia não é parar no documentário. A vida do Manoel rende uma série e precisa ser propagada, porque se funde com a própria história do país”, destaca, em resumo, a produtora Cassia Melo.

Carreira

Paulista de nascimento e publicitária de formação, Cassia começou sua carreira no audiovisual com o cineasta Fernando Meirelles, na O2 Filmes, e não parou mais.

Há 20 anos, atrás das raízes paternas, mudou, portanto, para o Maranhão e fundou a Oito Projetos Criativos.

A produtora é pioneira, em São Luís, em alavancar projetos culturais e esportivos por meio de leis de incentivo.

E, agora, segundo ela, lança, acima de tudo, o projeto da sua vida.

O documentário Minha Perna, Minha Classe refaz o percurso da infância de Manoel, permeada de violência na zona rural do Maranhão, ao retorno ao Brasil pós-exílio na Suíça.

O filme Minha Perna, Minha Classe traz a trajetória do líder camponês e sindicalista maranhense Manoel da Conceição (1935-2021), que virou símbolo de luta contra a opressão e a ditadura no Brasil e no exterior.
Créditos: Divulgação.

Viagem à China

Dentre os destaques, a viagem de Manoel à China, onde fez cursos e se aprofundou no pensamento maoísta.

Além disso, o ano de 1972, quando foi preso novamente e brutalmente torturado, no Rio de Janeiro, com sequelas para toda a vida e, 1979, com a Anistia, quando regressa ao Brasil e se engaja na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).

Manoel foi o terceiro militante a assinar a ficha de filiação do partido, ao lado de Mário Pedrosa e Apolônio de Carvalho.

Ele contribuiu, ainda, ativamente, da mesma forma, na fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural (Centru) e da Escola Técnica Agroextrativista (ETA).

Ambientalista

E, por fim, uma outra faceta de vanguarda, o Manoel ambientalista.

No retorno ao Brasil, ele ampliou ainda mais a sua luta, defendendo o agroextrativismo e a coexistência entre homem e natureza.

“O documentário está sendo lançado num momento mais do que oportuno. Nos últimos anos, o discurso de ódio e violência varreu o país. Manoel nunca pregou o uso violência. Pelo contrário, foi vítima dela. O que ele pregava era uma estratégia de luta para aprender a se defender e isso passava pelo conhecimento da terra e da natureza“, explica, em suma, o diretor Arturo Saboia.

O jovem cineasta maranhense já coleciona 70 prêmios no Brasil e no exterior.

Dentre eles, o de melhor filme pelo curta Farol (2018), no Los Angeles Film Awards.

O premiado cineasta Arturo Saboia assina a direção e o roteiro do filme, que será lançado no dia 18/03 com debate e exibição na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Crédito: Fabio Barros.

Desafiador

O diretor acredita que este seja o seu trabalho mais desafiador no gênero do documentário, seja pela complexidade do personagem, seja pela escassez de registros fotográficos e vídeos de época, em razão da clandestinidade da luta de Manoel da Conceição.

No estilo, uma inspiração: “uma das minhas maiores referências no documentário é Eduardo Coutinho. Sou profundo admirador de sua obra, em especial Cabra Marcado para Morrer. Ambos os filmes têm assuntos similares, como a violência no campo”.

“Minha perna é minha classe”, a frase que batizou o documentário está espalhada, por exemplo, em várias partes do mundo e virou lema.

Mesmo tendo conhecido de perto a dureza da prisão, da tortura e do exílio, Manoel continuou firme em sua utopia de um mundo melhor e com justiça social.

Inspiração, em conclusão, para diferentes gerações na luta contra a opressão.

Aqui um teaser do filme:

 https://www.youtube.com/watch?v=6ATw9T1SlEQ

 Serviço:

 O quê: Mesa-redonda com o diretor e a produtora e exibição do filme

Quando: Sábado (18.03), às 19h

Onde: Cinemateca Brasileira – Sala Grande Otelo

Endereço: Largo Sen. Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino – CEP 04021-070 – SP

Capacidade: 210 lugares + 04 assentos para cadeirantes 

Quanto: Ingressos gratuitos e distribuídos uma hora antes da sessão

Informações: Tel. 11 5906-8000

FICHA TÉCNICA:

Minha Perna, Minha Classe

Gênero: Documentário
Diretor: Arturo Saboia

Produtora Executiva: Cassia Melo
Elenco:  Vitor Ramos Sousa, Pedro Henrique dos Santos Morais, Admilson Diniz dos Santos, Joilma Menezes dos Santos
Duração: 90 min              Ano: 2023                          Formato: Digital
País: Brasil                                                                         Local de Produção: Maranhão
Cor: Colorido                                                                   Trilha Sonora: Matheus Vilarindo

Instagram: @minhapernaminhaclasse

YouTube:   @climaxfilmes

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