Joaquim Alessi
Na eleição de 1990, Luiz Antônio Fleury Filho, do então PMDB, (morto nesta terça-feira, 15 de novembro) conquistou o Palácio dos Bandeirantes.
Repórter especial do Diário do Grande ABC naquele ano, cobri, portanto, a disputa acirrada entre ele e o ex-governador Paulo Maluf (PDS).
Mas, bota acirrada nisso. Maluf tivera 43% dos votos no primeiro turno, contra 28% de Fleury, candidato do então governador Orestes Quércia.
A virada foi, acima de tudo, história. No segundo turno, Fleury abocanhou 51,77% contra 48,23% de Maluf.
Minha missão foi, por exemplo, mais a de acompanhar muito de perto a campanha malufista.
Amanhecia, passava o dia e quase dormia à porta de sua casa, comitê e comícios, sempre ao lado de repórteres como Marcelo Parada e Fernando Rodrigues, do Folhão, e de Marcelo MX, do Estadão.
Maluf criou certa afinidade comigo, embora eu tivesse total aversão ao seu estilo político e principalmente ideológico.
Certa feita, depois de visitar o Diário do Grande ABC, despediu-se de mim na portaria e, matreiro como sempre, disse: “Gosto de você. Eleito, você vai comigo para o Palácio.”
Nem respondi, mas a impertinência convenceu-me a optar pelo “voto útil” em Fleury no segundo turno. E era duro dar esse voto, hein!
No domingo do segundo turno, fui para a casa do “Dr. Paulo” (como o chamavam) logo cedo. Acompanhei o voto, peguei declarações… essas bobagens de dia de eleição.
Regressei à redação ainda cedo, escrevi, fui para casa e saímos eu, a Rosana e o Rudá (então com 7 anos de idade) para votar.
Espeto
Cumprido o dever, fomos almoçar do D’Brescia.
De repente, surgem na churrascaria o prefeito Celso Daniel (no primeiro mandato), Miriam (ainda Daniel), Professor Luizinho e outros petistas.
Educadamente, Celso dirigiu-se à mesa em que estávamos, nos cumprimentou e perguntou: “Já votaram?”
A pergunta era emblemática, dado o intenso debate que se travava entre as várias tendências do PT, algumas defendendo o voto nulo e outras, o chamado “útil”.
Devolvi a pergunta: “E você, votou?”
Direto e reto, Celso Daniel respondeu: “Sim. Tapei o nariz e fui de Fleury”.
Era compreensível o dilema e a decisão. Afinal, Maluf ainda era quem mais lembrava a ditadura militar.
Esses pouquíssimos votos de petistas, adversários históricos de Quércia, foram decisivos para a vitória de Fleury, hoje morto, aos 73 anos.