Série chega ao fim com a estreia de E se a porta cair seguiremos sentados apenas mais visíveis, na Oficina Cultural Oswald de Andrade.
O grupo também apresenta as outras duas peças em sua temporada gratuita no espaço e lança o livro “Trilogia dos Afetos Políticos: Cia de Teatro Acidental”
Iniciada em 2014, a “Trilogia Afetos Políticos”, da Cia de Teatro Acidental, encerra seu ciclo com a estreia de E se a porta cair seguiremos sentados apenas mais visíveis, que estreou em 26 de outubro, na Oficina Cultural Oswald de Andrade.
Com direção de Maria Tendlau, o espetáculo coloca em cena um julgamento em que todos os participantes ocupam, ao mesmo tempo, as posições de juízes, réus, advogados de defesa e acusação.
A ideia é sugerir ao mesmo tempo um tribunal revolucionário, um coro trágico, uma autocrítica de rede social, uma psicanálise de desenho animado, para refletir sobre como, no debate urgente sobre os rumos políticos do presente, a força de transformação parece paralisada pela confusão entre culpa e responsabilidade, vergonha e masoquismo, acusação e ressentimento.
A trilogia inclui ainda O que você realmente está fazendo é esperar o acidente acontecer e E o que fizemos foi ficar lá ou algo assim.
As três peças foram criadas durante um processo de crise política nacional (pra não dizer mundial), que foi só se agravando ao longo dos anos.
Elas buscam refletir sobre esse processo e têm uma coincidência: todas tiveram a reta final do processo de criação num ano eleitoral.
A primeira estreou em outubro de 2014, a segunda em janeiro de 2019 e a última após o primeiro turno das eleições de 2022.
“Quanto mais a gente afundava no horror político, mais aprofundava nossa investigação cênica dos afetos que estão em jogo nesse emaranhado. Ao mesmo tempo, buscamos soluções sobre o que poderíamos fazer para tentar mudar esse cenário. Por isso, começamos falando mais da direita e acabamos falando mais de nós mesmos, da esquerda. Partimos do ódio (como característica mais gritante desse fascismo que vemos avançar) e chegamos na culpa (que, infelizmente, tem sido uma tônica do nosso lado). E a segunda peça fala daquilo que une os dois lados, mesmo que a gente não queira enxergar: o medo”, explica Artur Kon, que além de estar em cena assina a dramaturgia da segunda e terceira peças.
Para marcar o fechamento desse projeto, a companhia também lança um livro que documenta essa pesquisa. “Trilogia dos Afetos Políticos: Cia de Teatro Acidental” traz os textos das três peças e uma reflexão sobre o processo de criação da trilogia nesses dez anos.
Cada peça ganha um texto especial, assinado por convidados.
Na ordem são eles: o jornalista e crítico Welington Andrade, a diretora e professora Silvana Garcia e a psicanalista e pesquisadora Alessandra Affortunati Martins.
O posfácio falando sobre a companhia é assinado por Christian Dunker, também psicanalista e interlocutor da Acidental nessa última década.
O livro foi lançado no dia 29 de outubro, na própria Oswald de Andrade.
Saiu pela editora mineira Javali, que tem oferecido espaço para grandes nomes da dramaturgia brasileira contemporânea publicando livros de Grace Passô, Janaína Leite, Jé Oliveira, Alexandre Dal Farra, além de grupos como o Galpão, o Quatroloscinco, a Hiato, a Lunalunera, entre outros.
Quem for assistir a alguma das peças pode levar o livro gratuitamente.
Do vídeo ao palco
Antes da versão em palco, ainda durante o auge da pandemia, E se a porta cair seguiremos sentados apenas mais visíveis teve a forma provisória de uma série de vídeos.
Eles registravam experimentos com a peça “A decisão” (de Bertolt Brecht) e a primeira versão da dramaturgia inédita criada em resposta a essa polêmica obra.
“Entendemos esse trabalho como um estudo e uma parte do processo até chegar no palco. O texto que eu tinha escrito era todo baseado numa proposta coral, num jogo entre indivíduo e coletivo (inspirado no do Brecht, que já trazia isso). O foco do processo este ano foi trazer esse aspecto para a cena”, relata, em resumo, Artur.
A peça dá continuidade, como dito anteriormente, à pesquisa iniciada pela Acidental em O que você realmente está fazendo é esperar o acidente acontecer – que reestreou na Oficina Cultural Oswald de Andrade em 1º de novembro.
A partir de um debate sobre “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues, a peça procura colocar em cena de maneira crua e sem uso de metáforas as convulsões de uma sociedade movida pelo ódio, cultivado em nome da liberdade de expressão.
Oito anos após sua estreia, ela parece ter antecipado terrivelmente os rumos políticos do país.
A segunda parte da trilogia foi E o que fizemos foi ficar lá ou algo assim – que reestreeou em 3 de novembro.
Nela, um grupo de vizinhos se encontra num espaço fechado. O que de início parece ser uma simples reunião de condomínio aos poucos ganha ares inquietantes. Sobre quem discutem os participantes? O que é que os espreita de lá de fora? Descobrindo-se presos em um filme de terror, só lhes resta tentar descobrir como escapar dessa sinistra ficção.
Além de refletir sobre o cenário político e social de nosso tempo, o grupo também se perguntou como o teatro e a arte de modo geral lidam normalmente com essas questões.
“Acho muito importante sempre questionar se os meios cênicos de que nós temos nos valido são de fato os mais interessantes, os mais produtivos, se eles estão de fato ajudando a pensar as questões ou só repetindo aquilo que a gente já sabe, sem sair do lugar. Por isso, na primeira peça a gente dialogava com o Nelson Rodrigues, que é um dramaturgo hiper reacionário, mas uma referência enorme pro teatro brasileiro. Na segunda, a gente trazia um pouco os filmes hollywoodianos de zumbi para falar sobre como nosso imaginário social é construído por essas narrativas repetidas desde a Guerra Fria, trazendo ideologias complicadas. Nesse terceiro trabalho, o grande disparador foi Brecht. Além de uma autoridade para um teatro político muito dogmático, muito avesso a transformações, ele também é um inventor genial que pode inspirar a renovação desse teatro, até mesmo contra esses que se dizem brechtianos”, explica, por exemplo, Kon.
As peças também refletem muito dos meios de comunicação que são fonte de (des)informação para boa parte da população.
Os textos trazem discursos que circulam por aí nas redes sociais, nos grupos de whatsapp, nesses espaços que precariamente substituem o que deveria ser uma esfera pública.
Em E se a porta cair seguiremos sentados apenas mais visíveis, o grupo trouxe muito do que se fala nos “textões” politizados de uma parcela da esquerda que só milita no computador, sem sair de casa nem pra dar uma olhada no que tem lá fora.
Serviço
Peça 3 – E se a porta cair seguiremos sentados apenas mais visíveis
Temporada 28.10 a 03.12, sextas-feiras 20h e sábados às 18h
Sessões extras, 15.11 às 18h e 29.11 às 20h
Ficha técnica:
texto
ARTUR KON
direção
MARIA TENDLAU
elenco
ARTUR KON, CHICO LIMA, MARIANA DIAS, MARIANA OTERO e MA ZINK
interlocutores
CLAYTON MARIANO e JANAÍNA LEITE
pensamento visual e fotos
RENAN MARCONDES
concepção sonora
CIA DE TEATRO ACIDENTAL e ELIAS MENDEZ
cenotécnico
GUILHERME SCHULTZ
iluminação
CAUÊ GOUVEIA
colaboração teórica
ALESSANDRA AFFORTUNATI MARTINS
produção
ANACRIS MEDINA
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos
Link das fotos: https://drive.google.com/drive/folders/1EjcpOTDOyM6SNkiECSHkd8iVlDlAR1g6?usp=sharing
Peça 1 – O que você realmente está fazendo é esperar o acidente acontecer
Reestreia 1º.11, terça-feira às 20h
Temporada 02.11 a 30.11, quarta-feiras às 20h
Ficha técnica:
texto
CIA DE TEATRO ACIDENTAL E CARLOS CANHAMEIRO
direção
CARLOS CANHAMEIRO
elenco
ARTUR KON, CAUÊ GOUVEIA, CHICO LIMA, EDUARDO BORDINHON, MARIANA DIAS, MARIANA OTERO e MA ZINK
pensamento corporal
ANDREIA YONASHIRO
iluminação
DANIEL GONZALEZ
cenário
MAURO MARTORELLI
fotos
CACÁ BERNARDES
produção
ANACRIS MEDINA
Duração: 65 minutos.
Classificação: 12 anos.
Link das fotos: https://drive.google.com/drive/folders/1ml7tk_xZV0AcJpAnDZnhzbMHf14o2Hdp?usp=sharing
Peça 2 – E o que fizemos foi ficar lá ou algo assim
Temporada de 03.11 a 1º.12,quintas-feiras às 20h
Sessão extra 08.11 e 22.11 às 20h
Ficha técnica:
encenação
CIA DE TEATRO ACIDENTAL
elenco
ARTUR KON, CAUÊ GOUVEIA, CHICO LIMA, MARIANA DIAS, MARIANA OTERO e MA ZINK
dramaturgia
ARTUR KON
pensamento visual
RENAN MARCONDES
concepção sonora
CIA DE TEATRO ACIDENTAL e ELIAS MENDEZ
iluminador e responsável técnico
CAUÊ GOUVEIA
cenotécnico
GUILHERME SCHULTZ
fotos
CACÁ BERNARDES
produção
ANACRIS MEDINA
Duração: 80 minutos
Classificação: 14 anos
Link das fotos: https://drive.google.com/drive/folders/1kZ3I2UM_YSgljrdXJC2ByMZBatgKVS2x?usp=sharing
Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro – Próximo Estação Tiradentes
Telefone: (11) 3222-2662
Acessibilidade: rampa de acesso para cadeirantes
Capacidade: 40 lugares