Aquela velha e boa monotomia

In ABCD, Artigo On

Guttemberg Guarabyra

Esta não é feita de ausência de variedade, mas de excesso. (Minha avó já dizia que tudo demais é sobra).

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Nascido em cidade pequena, sempre ouvi de amigos, vizinhos, moradores gerais, a reclamação invariável.

Aqui não tem nada. Todo dia é a mesma coisa, bom dia, boa noite, sempre para as mesmas pessoas, passeio na mesma praça, mesmo papo furado no mercado.

A chegada do primeiro cinema foi comemorada como um até que enfim vamos nos livrar da monotonia.

No décimo-primeiro filme, a tela grande, a bilheteria em forma de arco vazando a parede, o balcão com pipocas, Coca-Cola e uvas passas Sun Maid, já tinham também sido carimbados com o selo implacável de coisa monótona.

Na capital tudo é melhor. Na capital tem notícia.

No tempo de que estou falando, as cidades pequenas eram muito mais satélites das grandes do que as de hoje.

O jornal vinha da capital e chegava com dias de atraso. As manchetes já haviam aterrissado transportadas pelo céu nas ondas do rádio.

Mas a coluna social, a seção de esportes, as fotos dos jogadores num tempo sem televisão, faziam as grandes páginas ciciantes brilharem como um firmamento em que cada notinha tinha o valor de estrela.

Hoje elas ainda são satélites. Porém não tão dependentes. Embora ainda assim não dê para se livrarem do poder hipnótico das transmissões vindas das sedes, chegadas dos planetas que orbitam.

Não dá pra perder aquela novela, aquele grande telejornal.

E assim tudo vira de novo monotonia. Mas de outra espécie.

Esta não é feita de ausência de variedade, mas de excesso. (Minha avó já dizia que tudo demais é sobra).

Aquela monotonia de antes, outrora tão criticada, o homem da cidade grande de hoje sente falta e quer de volta.

Inveja a paz das cidades menores. Está de saco cheio de tanta informação, tanto carro passando, tantas telas, tantas luzes, tantos discursos, tantas ideias, tanto palavrório, discussão, dias sem paz.

E novamente há uma reclamação invariável. Onde foi parar aquela velha e boa monotonia.

 

Música do dia

  • Guttemberg Nery Guarabyra Filho, ou Guttemberg Guarabyra, ou apenas Guarabyra, nascido em Barra, Vale do São Franscico, Interior da Bahia, cronista de ABCD REAL, músico, compositor, escritor e poeta brasileiro. Entre seus maiores sucessos como compositor estão as canções “Mestre Jonas” e “Outra vez na estrada” (ambas em parceria com Luiz Carlos Sá e Zé Rodrix), “Casaco Marrom” (com Renato Correa e Danilo Caymmi), “Sobradinho” (com Luiz Carlos Sá) , “Espanhola” (com Flávio Venturini), Dona e muito mais. Escreveu O Outro Lado do Mundo e Teatro dos Esquecidos, além de inúmeras crônicas.

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