*Caio Bruno
Rumores vindos de Brasília dão conta de que o Governo Federal avalia a possibilidade de fechar unilateralmente a Cinemateca Brasileira. O local, maior acervo do audiovisual brasileiro, é de propriedade da União e está sob gestão da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) desde 2018. O contrato entre as partes vai até 2021, entretanto o governo Jair Bolsonaro já externou a vontade de romper o acordo antes da hora e, segundo, o Ministério Público, não houve repasse financeiro este ano, os funcionários estão sem receber desde abril e há dívidas até de contas de luz. O que significaria seu fim para a cultura nacional?
Além da demissão sumária de aproximadamente 150 empregados, o fim da Cinemateca Brasileira, instituição existente desde 1946 e desde 1984 pertencente ao Governo Federal, significaria um baque irreversível na história do audiovisual do país. Com históricas instalações (um antigo matadouro municipal construído em 1887) na Vila Mariana, em São Paulo, que teriam um destino ignorado, o mais preocupante é o que será feito do acervo do local. São mais de 230 mil rolos de filmes contendo boa parte do que sobrou entre incêndios e descasos da filmografia tupiniquim, por exemplo. Aproximadamente 30 mil títulos, entre obras de ficção, documentários, cinejornais, filmes publicitários e registros familiares.
Entre as relíquias estão o raríssimo “Limite”, de Mário Peixoto, (1931) o filme mais antigo nacional ainda existente e também o arquivo remanescente da extinta TV Tupi (1950-1980), a primeira emissora de TV do Brasil. Se o fim unilateral da Cinemateca for concretizado, não se saberá o destino de todo esse arquivo.
O local abriga também cerca de 1 milhão de documentos históricos, desempenha papel importante na restauração de filmes como o clássico “Macunaíma” (1969), de Joaquim Pedro de Andrade e também conta com auditórios, salas de exibição e realização de eventos.
Devemos agradecer indiretamente a atriz Regina Duarte por jogar luz à situação degradante da Cinemateca. Após um curto período onde exerceu o cargo de secretária Nacional de Cultura, a eterna Viúva Porcina comunicou ao lado do presidente Bolsonaro que iria para o comando da instituição depois de longo processo de fritura. Segundo a imprensa, não existe o cargo prometido para Regina, mas serviu para nos trazer o real estado da coisa no equipamento público.
Por se tratar de um governo instável e errante, que gosta de plantar armadilhas usando-se de Fake News com o objetivo de depois desmentir e tentar descredibilizar a imprensa, podemos esperar de tudo referente a esse assunto. Torço para que não se concretize o fechamento da Cinemateca, mas sabendo do histórico e da repulsa à cultura que o atual Executivo Federal nutre, sinto-me conformado.
Caio Bruno é jornalista, pós-graduado em Comunicação e especialista em Marketing Político. www.caiobruno.com.br