Decisão deixa claro, em primeiro lugar, a necessidade urgente de uma política industrial, insistentemente cobrada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
No mesmo dia em que anunciou ter conquistado, do final de janeiro, o marco histórico de 150.000 caminhões e ônibus exportados em regime CKD, a Mercedes-Benz do Brasil informou nesta quinta-feora (24.02), da mesma forma, que colocará 600 trabalhadores das áreas de eixos, cambio e caminhões em férias coletivas, na planta de São Bernardo do Campo, em função da falta de componentes eletrônicos.
Os metalúrgicos ficarão fora da fábrica, em primeiro lugar, por 12 dias, de 14 a 25 de março.
Há, além disso, a possibilidade de outro grupo entrar em coletivas no final do mês.
Diálogo
O coordenador do Comitê Sindical na Mercedes-Benz, Sandro Vitoriano, destaca que a representação dos trabalhadores vem acompanhando e dialogando com a empresa sobre a flutuação da produção e que a perspectiva do mercado de caminhões era maior que ano passado.
“No final de janeiro a empresa estava discutindo jornadas adicionais e contratações para atender o volume de produção, mas depois de alguns dias e com o agravamento da falta de peças já houve cortes no volume e a empresa sinalizou que haverá férias coletivas. “Com o aumento da demanda, nossa pauta também era para colocar mais trabalhadores na empresa”, conta, por exemplo.
Vitoriano também apontou que o crescimento previsto para este ano é fruto de uma demanda reprimida em consequência da pandemia da covid-19, da aceleração das exportações geradas pelo agronegócio e da antecipação das compras provocadas pelo Euro 6, conjunto de normas regulamentadoras sobre emissão de poluentes para motores diesel.
Política industrial
O diretor executivo do Sindicato, presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo Oliveira da Silva, destacou que a decisão evidencia a necessidade urgente de uma política industrial, insistentemente cobrada pelos Metalúrgicos do ABC nas mais diferentes esferas para fortalecer a indústria no Brasil, preservar e gerar empregos.
Para o sindicalista, a crise de falta de componentes enfrentada pelo setor industrial brasileiro é absurda, principalmente por haver demanda do mercado.
“Não estamos discutindo uma queda no mercado ou a falta de capacidade de produzir caminhões. O que está acontecendo agora, em momento que a empresa deveria estar contratando, mostra a total ineficácia do atual governo em pensar políticas industriais que atendam as demandas das indústrias e do consumo que está colocado no Brasil. Poucos setores estão reagindo, e nesses poucos o governo não tem uma política para estimula-los ”, afirmou
A Mercedes-benz conta com cerca de 8 mil trabalhadores, sendo 6 mil na produção.
Recorde de exportação
Já o marco histórico de 150.000 caminhões e ônibus exportados foi em regime CKD.
A sigla identifica veículos semidesmontados, cujas peças e componentes são especialmente embalados para montagem final nos países compradores.
O expressivo volume de 150.000 unidades refere-se ao acumulado desde a década de 1970, quando a Empresa iniciou exportações de veículos CKD.
Em 2021, foram 3.669 unidades exportadas, com média de 3.160 veículos por ano nos dois primeiros anos desta década de 2020.
Na década anterior, de 2010, a média foi de 4.134 unidades por ano.
Atualmente, os caminhões e ônibus CKD – numa proporção de 40% e 60%, respectivamente – saem da fábrica de São Bernardo para plantas da própria Daimler Truck ou de representantes Mercedes-Benz na Argentina e no México, como também no Egito, Quênia, Argélia e África do Sul, no continente africano; e Indonésia, Taiwan e Vietnam, na Ásia.
“As vendas de veículos desmontados são muito importantes para o volume de exportações da Empresa, que também comercializa caminhões e chassis de ônibus integrais para o mercado externo. Além disso, contribui para o volume de produção das plantas de São Bernardo do Campo e de Juiz de Fora”, diz Achim Puchert, presidente da Mercedes-Benz do Brasil & CEO América Latina. “O CKD é uma importante ferramenta para expandir nossas atividades nos mercados de exportação e também cria emprego. Oferecemos, atualmente, produtos em CKD customizados aos clientes a partir de caminhões das famílias Accelo e Atego e de toda a linha de ônibus urbanos e rodoviários, do micro ao superarticulado”.
Mais de 170 colaboradores dedicam-se exclusivamente a essa operação na fábrica de São Bernardo do Campo. “Parabenizo todo o time por esse marco histórico de produção, que é uma conquista admirável”, afirma Achim Puchert, em conclusão.